domingo, 1 de janeiro de 2012

UM TAL DE SIGNIFICADO...




Por Edna Palladino

Seria tão bom que as refeições já viessem prontas à nossa mesa.
Medida certa de sal, de óleo, bem quentinhas em seu estado natural.
Nossa! Seria formidável!
Nada de panela, nem fogão e água pra lavar os grãos.
Seria o fim de toda indisposição e mesmice, de todo suor.
De toda incomodação.
Mas pensando bem...
Cada ingrediente alimentar, em sua forma rudimentar traz seu modo peculiar de preparar.
Será por quê?
Toalha na mesa, talheres, servir tudo quentinho, menos a salada, ela é boa fria.  
O pessoal está atento, o cheiro das iguarias enche a casa, ao menor sinal de "tá pronto, pessoal", se atropelam em busca de um lugar disputadíssimo.
 A conversa soa alta, como vagão desgovernado morro abaixo.
Pensamentos velados soltam-se em prosa quase sem querer, fazendo-se conhecer.
Pequenos resmungos denunciam insatisfação, enquanto que boas e longas risadas, gratidão. A última bem pode contagiar a primeira... 
As carinhas tristonhas falam de possíveis conflitos, alguns  já marinados...
Tudo bem! À mesa tem ouvidos acolhedores.
Nossa! Tivessem os casais modernos percebido – arroz, feijão, panela e fogão é paixão  pra quem deseja cravar um certo chão.   

CASA ARRUMADA



A vida é muito mais que casa arrumada…
E esse texto de Carlos Drumond de Andrade deixa claro isso:
Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos…
Netos, pros vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.