sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

FILHO ÚNICO PRECISA APRENDER SOLIDARIEDADE




Maria Tereza Maldonado

Filhos únicos não são necessariamente egoístas nem tiranos. Pais de um único filho tampouco são inevitavelmente super protetores ou superexigentes. Muitas crianças, mesmo sem irmãos, tornam-se pessoas generosas, compreensivas e solidárias. Para isso, é preciso que sejam estimuladas a formar uma boa rede de amigos, para criar muitas oportunidades de convívio com outras crianças além do período de permanência na escola. Isso favorece a aprendizagem de compartilhar brincadeiras, aceitar as idéias dos outros, resolver conflitos e se divertir em grupo. Sem a riqueza da fraternidade, é preciso cultivar os amigos-irmãos. 

É importante que os pais mostrem, no cotidiano da vida em família, que respeitam os desejos e as necessidades da criança, deixando claro que ela também precisa perceber e respeitar os desejos e as necessidades das outras pessoas da casa. Por exemplo, a mãe diz: "Passei um tempo desenhando e brincando com você, agora vou telefonar para uma amiga". Ou o pai diz: "Estou acabando de ler o jornal, depois vou jogar bola com você". É importante lembrar que há crianças que, mesmo não tendo irmãos, crescem egocêntricas, sem respeito pelos direitos dos outros.

Vários fatores entram na decisão de planejar a família com um único filho: a sobrecarga de trabalhos em tempo integral, o investimento na carreira e o equilíbrio orçamentário (para oferecer uma boa escola, cursos complementares, lazer de qualidade...). Há também os casais que gostariam de ter tido mais filhos mas não conseguiram; há os que temem ter mais de um filho porque o relacionamento é emocionalmente instável; e há ainda mulheres que resolveram ter um filho sem um parceiro estável, realizando seu desejo de maternidade.

Conheço pais que se sentem culpados e endividados por não terem dado o irmãozinho que o filho único tanto pedia. Concentrando desejos e expectativas em um só, acham que precisam indenizar a criança dando-lhe tudo o que ela pede ou girando em torno dela para satisfazer seus anseios. Como as crianças são muito sensíveis, logo percebem esses pontos fracos dos adultos e montam suas estratégias de poder, tonando-se egocêntricas e tirânicas. Sentem muito prazer com o poder de submeter os adultos aos seus desejos e perceber que eles se assustam quando elas gritam, fazem escândalos ou ameaças na frentes dos outros.

Com isso, não aprendem o valor das "mão dupla" nos relacionamentos, com toda a sua riqueza de trocas, estimulando o desenvolvimento da compreensão, da generosidade, da cooperação e da solidariedade. E crescem com a dificuldade de perceber que todos nós precisamos aprender a lidar com a falta e com a frustração: nem todos os nosso sonhos, desejos e expectativas poderão ser realizados.

Por outro lado, a maioria dos filhos únicos sente o peso da responsabilidade de "dar certo" para não frustrar as expectativas dos pais. Como não há irmãos para repartir sucessos e fracassos, a sobrecarga é grande, e, com frequência, eles constroem um padrão profundo de intenso auto-exigência. 

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