sexta-feira, 29 de março de 2013

A DIFÍCIL ARTE DO ENCONTRO




                                                                                            Lidia Rosenberg  Aratangy

Este é o instante antes do instante, um momento antes do momento. Eles ainda não sabem, mas já está acontecendo. O próximo gesto dele já será sensual, a próxima respiração dela já será um arfar. Leve, muito leve.

Já não é possível voltar atrás: a descoberta se impõe. Vão se perceber, macho e fêmea. Isto é: incompletos. A carência vai imprimir sua marca, no próximo instante. A partir daí, perdida a paz. Para sempre, a sensação de falta vai instalar o medo da perda. O suor na fronte, gelado, virá do cotidiano trabalho de conviver com isso.

Esta morte temida, assustadora: a ameaça de separação é o estigma de mortalidade que nos faz tremer. Ser de volta remetido à própria incompletude, depois de ter conhecido a união.

Impossível refazer a ilusão de independência, de auto-suficiência, de inteireza. Ainda estão nus, mas já vão se aperceber disso e sentirão vergonha. E terão de esconder o que os diferencia e, portanto, denuncia a carência e faz brotar o desejo. Agora, vamos ter que inventar a fantasia, para poder sobreviver à fenda. Para podermos aguentar tudo o que vai nascer dentro de um instante, quando este abraço encontrar o seu destino e mapear esses corpos com a geografia da sensualidade.

Anunciam-se a traição e a culpa, o medo da fragilidade e o jogo do poder. A partir de então, um terá sobre o outro o poder de vida e de morte: o olhar poderá confirmar o afeto, reafirmando a vida; ou congelar a distância, condenando à morte.

Daí em diante, a insegurança será parte ineludível da condição humana. Pois este é o preço da sexualidade: a perda do paraíso.

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